O
garoto encostou de repente e reparei que ao lado da nossa mesa havia um
pula-pula, no espaço para crianças. Pensei que ele fosse pedir dinheiro (o mais
provável nessa ocasião), mas ele simplesmente encostou e disse: “Olha pra mim,
tia?” E estendeu a mão com vinte reais. Hesitei no momento e pensei por que ele
havia me pedido aquilo, mas então respondi: “Deixa ali embaixo, que eu olho”. E
ele colocou o dinheiro embaixo de uma caixinha que havia na mesa.
E
ele, então, partiu para o pula-pula. E sorriu, vibrou, me gritou: “Tia, olha!”
Sorri pra ele e imaginei o valor daquele instante. Primeiro que uma caixinha de
vinte reais no dia já é, no mínimo, atípico! Estava, logicamente, super contente
com o resultado do seu “trabalho”. Segundo, que poder comemorar pulando daquele
jeito, era simplesmente fantástico!
Esperei
que me pedisse comida ou dinheiro. Mas em sua linda e ainda existente inocência
(difícil em quem vive dessa maneira), ele apenas me pediu para cuidar do seu
caixa enquanto se divertia naquele momento único e mágico. E o melhor: era de
graça! Depois de muito pular, encostou novamente, pegou o dinheiro de onde
havia deixado, colocou bem guardadinho no short, sorriu e falou: “Tchau, tia.”
Dei
o tchau, sorri em resposta ao seu sorriso, e fiquei imaginando qual seria a
realidade dele a partir dali. Para onde iria, quem estaria esperando, o que
faria com os vinte reais e a quem contaria sobre a aventura do pula-pula. E então,
pedi a Deus que ele fosse feliz todos os dias, assim como havia sido naquele
dia.