terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O garoto, os vinte reais e o pula-pula



                  O restaurante não estava cheio naquele dia. Apenas umas três ou quatro mesas ocupadas por casais e outra com uma turma, em uma típica confraternização de final de ano. Eu acompanhava meu esposo com uma taça de vinho, enquanto conversávamos sobre a vida.

                O garoto encostou de repente e reparei que ao lado da nossa mesa havia um pula-pula, no espaço para crianças. Pensei que ele fosse pedir dinheiro (o mais provável nessa ocasião), mas ele simplesmente encostou e disse: “Olha pra mim, tia?” E estendeu a mão com vinte reais. Hesitei no momento e pensei por que ele havia me pedido aquilo, mas então respondi: “Deixa ali embaixo, que eu olho”. E ele colocou o dinheiro embaixo de uma caixinha que havia na mesa.

                E ele, então, partiu para o pula-pula. E sorriu, vibrou, me gritou: “Tia, olha!” Sorri pra ele e imaginei o valor daquele instante. Primeiro que uma caixinha de vinte reais no dia já é, no mínimo, atípico! Estava, logicamente, super contente com o resultado do seu “trabalho”. Segundo, que poder comemorar pulando daquele jeito, era simplesmente fantástico!

                Esperei que me pedisse comida ou dinheiro. Mas em sua linda e ainda existente inocência (difícil em quem vive dessa maneira), ele apenas me pediu para cuidar do seu caixa enquanto se divertia naquele momento único e mágico. E o melhor: era de graça! Depois de muito pular, encostou novamente, pegou o dinheiro de onde havia deixado, colocou bem guardadinho no short, sorriu e falou: “Tchau, tia.”
                Dei o tchau, sorri em resposta ao seu sorriso, e fiquei imaginando qual seria a realidade dele a partir dali. Para onde iria, quem estaria esperando, o que faria com os vinte reais e a quem contaria sobre a aventura do pula-pula. E então, pedi a Deus que ele fosse feliz todos os dias, assim como havia sido naquele dia.