terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O garoto, os vinte reais e o pula-pula



                  O restaurante não estava cheio naquele dia. Apenas umas três ou quatro mesas ocupadas por casais e outra com uma turma, em uma típica confraternização de final de ano. Eu acompanhava meu esposo com uma taça de vinho, enquanto conversávamos sobre a vida.

                O garoto encostou de repente e reparei que ao lado da nossa mesa havia um pula-pula, no espaço para crianças. Pensei que ele fosse pedir dinheiro (o mais provável nessa ocasião), mas ele simplesmente encostou e disse: “Olha pra mim, tia?” E estendeu a mão com vinte reais. Hesitei no momento e pensei por que ele havia me pedido aquilo, mas então respondi: “Deixa ali embaixo, que eu olho”. E ele colocou o dinheiro embaixo de uma caixinha que havia na mesa.

                E ele, então, partiu para o pula-pula. E sorriu, vibrou, me gritou: “Tia, olha!” Sorri pra ele e imaginei o valor daquele instante. Primeiro que uma caixinha de vinte reais no dia já é, no mínimo, atípico! Estava, logicamente, super contente com o resultado do seu “trabalho”. Segundo, que poder comemorar pulando daquele jeito, era simplesmente fantástico!

                Esperei que me pedisse comida ou dinheiro. Mas em sua linda e ainda existente inocência (difícil em quem vive dessa maneira), ele apenas me pediu para cuidar do seu caixa enquanto se divertia naquele momento único e mágico. E o melhor: era de graça! Depois de muito pular, encostou novamente, pegou o dinheiro de onde havia deixado, colocou bem guardadinho no short, sorriu e falou: “Tchau, tia.”
                Dei o tchau, sorri em resposta ao seu sorriso, e fiquei imaginando qual seria a realidade dele a partir dali. Para onde iria, quem estaria esperando, o que faria com os vinte reais e a quem contaria sobre a aventura do pula-pula. E então, pedi a Deus que ele fosse feliz todos os dias, assim como havia sido naquele dia.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A minha experiência como mãe de um bebê prematuro


Beatriz nasceu numa tarde de agosto, mais precisamente na tarde de cinco de agosto de 2009, no Hospital Manoel Novaes, em Itabuna-BA, pelas mãos da doutora “anjo” Renata Albano. Neste ponto já preciso abrir um parênteses para dizer que Deus foi maravilhoso, perfeito, indiscutível ao colocar esse ser humano para trazer a esse mundo a minha grande felicidade.
Pois bem. Não senti a anestesia,nem o corte, nem quando retiraram Beatriz. Vi tudo muito quieto naquela sala de cirurgia, e então perguntei: “Ela já nasceu, doutora?”. A resposta foi: “Sim. Ela foi ali e já volta.” Algumas horas depois soube que aquele “foi ali e já volta” significou dizer que Beatriz precisou ser reanimada, por isso não ouvi o tão esperado chorinho no nascimento.

Trouxeram minha pequena já numa incubadora. A vi de longe. Nenhum toque, nenhum afago, nenhum beijo. E seguiram com ela para a UTI Neonatal, onde passaria mais inacabáveis 21 dias. Era uma quarta-feira. Me levaram para o quarto para descansar e me recuperar da cirurgia. Até então não sabia que ela ficaria tantos dias longe de mim. Não pude vê-la na quinta-feira. Somente na sexta-feira, recebi a noticia de que poderia visita-la na UTI.

Na entrada da UTI, um ambiente alegre, com fotos de crianças que já haviam passado por ali e que traziam força e esperança para as que naquele momento encontravam-se na mesma situação. Só podiam entrar os pais e os avós, mas sempre um de cada vez, e por pouco tempo, para não atrapalhar o andamento das atividades dos profissionais. Entrei procurando o nome da minha “Beatriz” e não achei, até que lá no fundo vi “RN de Mariela Rios”. Era ela. Ainda que toda cheia de apetrechos necessários naquele momento que me impediam de ver sua carinha, seu corpinho...era a minha filha.

E a minha emoção naquele instante foi tamanha que não tive como conter as lágrimas. Lembro que uma enfermeira encostou e disse: “Não fica assim, mãe. Ela sente. Ela precisa sentir que você está bem”. Mas o meu choro era exatamente por isso. Por saber que por mais difícil que tivesse sido, ela estava ali, e estava bem. E esse era meu único agradecimento a Deus. Peguei no pezinho, fiz um carinho na mãozinha e perguntei a médica plantonista como ela estava. A médica me respondeu (o que vou contar a partir de agora vai ser surpresa para muitos, mas é mais uma prova de que quando acreditamos em Deus e confiamos nossa vida a Ele, nada pode ser maior): “Ela está bem. Só parece que tem uma síndrome. A síndrome de Turner”.

Eu escutei aquilo e apenas disse: “Ah, que bom que ela está bem.” Saí da UTI e retornei ao quarto falando a Deus que não importava nada, que cuidaria e amaria minha filha em qualquer situação. Contei ao meu esposo e aos meus pais e eles começaram a pesquisar a síndrome que nunca havíamos ouvido falar, assim como a  síndrome que eu sofri e que trouxe Beatriz prematuramente, a síndrome de Hellp(oportunamente abordarei esse tema para as grávidas).

Síndrome Turner é uma anomalia cromossômica cuja origem é a perda parcial ou total de um cromossomo X. A sindrome é identificada no momento do nascimento, ou antes da puberdade por suas características fenotípicas distintivas. A portadora apresenta baixa estatura, órgãos sexuais (ovários e vagina) e caracteres sexuais secundários (seios) pouco desenvolvidos (por falta de hormônios sexuais), tórax largo em barril, pescoço alado (com pregas cutâneas bilaterais), má-formação das orelhas, maior frequência de problemas renais e cardiovasculares, e é quase sempre estéril (os ovários não produzem ovócitos).Mais tarde, após os exames, constatamos o que minha médica “anjo” já havia me dito: Beatriz não tinha a sindrome de Turner. Agradeci a Deus por isso.

Passei mais dois dias internada e recebi alta. Sozinha. Beatriz continuaria ali. Coração na mão. Mãos vazias. Colo sem minha filha. Um pedaço de mim ficaria no hospital. Essa foi a sensação mais triste de todas que senti durante os dias que passamos por tudo isso. E fui pra casa, deixando a minha esperança e o meu amor. Foram os dias seguintes que me ensinaram a ver a vida de uma maneira diferente, a acreditar cada vez mais em milagres, a entender os desígnios de Deus para cada um de nós.

Assim como eu, diariamente muitas mães iam acompanhar o desenvolvimento dos seus pequenos. Mas também havia aquelas que não podiam ir, que não tinham recursos para isso, e os bebes ficavam ali, sendo acarinhados e cuidados pelas enfermeiras. Conheci lindas histórias, abracei muitas amigas, fui testemunha de muitas vitórias. Grandes aprendizados.

Rapidamente Beatriz saiu do alto risco e foi para o médio risco. E foi quando a peguei no colo pela primeira vez. E pude dar de mamar também. Felicidade única. Momento inesquecível. Passei a mão em seus poucos cabelos que logo seriam pouquíssimos, já que a maioria tem a cabecinha raspada por conta das veias aparentes que precisam ser pegas. No outro dia quando entrei na UTI a enfermeira estava trocando Bia. Me deparei com a cena e me perguntei como cuidaria daquele ser tão frágil? Ela pesava 1.800 kg, sendo que havia nascido com 2.260kg (é normal que eles percam peso no início). A fralda descartável “engolia” minha pequena guerreira.

Beatriz não tinha força pra sugar e muitas vezes o meu leite não conseguiu suprir a necessidade dela. Por isso, precisavam complementar com o leite materno no “copo descartável”. Incrível! Com um copinho descartável de cafezinho, as mãos experientes das enfermeiras faziam a alegria dos bebês que bebiam todo o leite, em gulosos goles! Incrível mesmo!

Um dia cheguei à UTI e Beatriz havia voltado para a sonda. Precisava limpar e retirar alguns resíduos ainda do parto e por isso estava em dieta zero por 24h. Pra quem já havia aprendido a dar grandes goles naquele copinho de café, aguentar uma dieta zero era demais! E ela chorava, chorava, sem parar. E eu só chorava também. Na hora de sair, perguntei a uma enfermeira o que eu podia fazer para ajudar e ela me pediu que levasse uma chupeta, a menor que eu encontrasse. Fui atrás da chupeta e voltei. Quando a enfermeira colocou na boquinha dela a emoçao foi tanta que ela segurou e começou a chupar esperando que o leitinho saisse dali. Tadinha da minha pequena...enganaram ela direitinho. Mas pelo menos pude sair naquele dia sem ouvir o choro que me matava por dentro.

Todos os dias eu levava a malinha dela pronta. Nunca sabia qual poderia ser o dia da alta e toda visita era uma esperança. E todas as semanas levava um pacote de fraldas pra ela, que ficava guardado embaixo do leito. Mas observava que nem todos os bebês tinham fraldas em seus leitos. Perguntei a enfermeira e ela disse que o plano cobria fraldas, que não era preciso levar. Mas quando soube que muitas vezes elas tinham que cortar uma fralda para fazer duas e suprir a necessidade dos que nao tinham, eu disse que deixasse as que o plano cobria para os bebes que precisavam.

Cheguei no dia 27 de agosto para visitar Beatriz, com a malinha pronta. Quando a enfermeira me viu, disse: “Mãe, estamos tentando falar com você, ligando pra você e nada...Beatriz teve alta”. Abracei a enfermeira e chorei. Entreguei a mala e esperei do lado de fora. Trouxeram minha filha arrumadinha, fofa, com direito a mantinha rosa, roupinha especial e tudo mais que um bebê tem direito para sair da maternidade. Agora sim tudo estava bem. Estávamos prontas para sermos e vivermos a grande relação mãe e filha.

Abracei as enfermeiras, médicas, profissionais que dedicaram tanto cuidado a minha filha e somente agradeci. Era a unica coisa que podia fazer naquele momento. Desci a rampa, sorridente, passei pela primeira porta. Cheguei à portaria, falei com os atendentes que já estavam acostumados a me ver todos os dias e naquele dia eles sorriram diferente para mim, como se dissessem “que bom que deu tudo certo”. Saí dali sabendo que voltaria. Voltaria para fazer algo por aqueles bebês. Para fazer algo a mais por mim.


Mariela Rios é comunicóloga, pós-graduada em Leitura, Interpretação e Produção de Texto, graduanda em Pedagogia e mãe de um bebê prematuro que hoje está com 4 anos e uma saúde perfeita.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Carta Aberta



Estou prestes a completar 30 anos de vida...Agradeço a Deus por ter feito de mim a mulher que sou, mas tenho que agradecer a muito mais gente também, por terem participado da minha história, por fazerem os meus dias mais significativos. Por isso a ideia dessa intitulada por mim de “Carta Aberta”...





Aos meus pais, logicamente. À minha irmã por ter me ensinado a amar ainda mais e me fazer entender que o amor por ser dividido em partes iguais. Aos meus avós, tios, primos, primas por completarem tão perfeitamente o meu ideal de família.





Mas a parte maior desse agradecimento vai para os meus amigos e colegas que viveram comigo os meus últimos quinze anos de vida. Colegas da Ação Fraternal de Itabuna: Bruno, Vitor, Vanessa, Mariana, Gustavo, Guilherme,Maria de Lourdes, Glauber, Juliana, Lais Paula. Todos ficarão pra sempre em meu coração. Os meus eternos mestres: Marília, Rita Veloso, Guadalupe, Lívia, Marciel, Gil. Sim, vocês conseguiram me educar para a vida e os exemplos nunca serão esquecidos.





Obrigada também aos que fizeram da minha juventude momentos sadios de alegria: Rachel, Camila, Cíntia, Carol, Felipe, Wander, Isralso, Ana Paula Pazin, Ana Paula Carqueija, Iracema, João Vitor, Mardey, Marcos Ely, Danilo Suque, Jade Maria. A vida toma rumos diferentes, mas no coração o sentimento é o mesmo. Saudades de todos vocês.





Aline Mororó e Kátia Morais: colegas, amigas, irmãs,parceiras. Vocês fizeram toda a diferença na construção da minha identidade como mulher. As piadas, os choros, os desabafos, os conselhos... Levarei para sempre comigo a lembrança dos momentos onde discutíamos as nossas dúvidas, incertezas, “certezas de momento” (rs), questionamentos, confissões.





Como esquecer a pessoa que nos dá a primeira oportunidade de trabalho? Daniel Thame, obrigada por me fazer descobrir como profissional e por deixar a porta aberta. Ramon Amaral, Ricardo Ribeiro, Davidson Samuel, Cláudio Rodrigues, o velho “Biro Biro”, Rian Girotto, João Neto. Todos me incentivaram, me ajudaram, acreditaram em mim.





Ainda na parte profissional preciso agradecer a quem acreditou no meu potencial sem nem mesmo me conhecer e me ajudou a encontrar o meu amor também pela Educação. Nágila Rodrigues, você foi e será sempre especial.





À minha mais recente irmã e amiga, Cláudia Marchesin, que me ensina as delícias e confusões de uma “trintona”. Estou aprendendo com você, “amigôla”!





Ao meu esposo,amigo, amor, amante, parceiro...Cleisson. Por me aturar diariamente, me compreender, me ensinar que a dedicação no casamento deve ser diária e por me dar o presente mais valioso da minha vida, a pequena Beatriz. Amor sem explicação, sem comparação.





E aos que convivem comigo atualmente no trabalho, em casa, na rua, o meu muito obrigada por me oferecerem sua amizade e por estarem ao meu lado nessa vida que não é nada fácil, mas que em se sabendo viver e levar, tem-se recompensas inestimáveis...

Que venham mais trinta anos e com eles mais amigos, histórias, amor.

sábado, 10 de dezembro de 2011

O verdadeiro significado da solidariedade



Essa é a época do ano em que as pessoas parecem ficar mais sensíveis, amáveis, solícitas. O Natal carrega consigo todo esse encanto que faz as emoções fluírem. Então pensei: “por que não sermos assim o tempo todo? Qual o verdadeiro significado dessa tal solidariedade?”
Solidariedade vem do latim "solidare", que significa, etimologicamente, "solidificar", "confirmar". A origem é a mesma do adjetivo "sólido", significando "que tem consistência, que não é oco, que não se deixa destruir facilmente".Sendo assim, ser solidário é muito mais do que ajudar ao próximo que precisa de comida, agasalho ou presentes de Natal.
É lembrar de cuidar de quem está próximo de nós. O abraço no pai, o “eu te amo” pra mãe, o “muito obrigado” ao amigo, o “bom dia” ao vizinho. Começando com pequenos atos de solidariedade podemos servir de exemplo para os que estão ao nosso redor e assim “solidificar” o ensinamento divino “ Ama ao teu próximo como a ti mesmo”.
Diante do mundo em que vivemos hoje ser solidário é uma das práticas mais importantes e necessárias. Práticas que devem ser repetidas sempre, em todos os momentos, e não somente na época Natalina. Confirmar o amor diariamente, para não se deixar destruir.
Alguém sempre estará esperando para se deixar amar. O amor de mãe, de pai, filho, amigo, namorado, esposa, avô, avó e do garotinho na calçada. Porque o princípio é o amor. Foi com esse sentimento de amor, de solidariedade, que Deus nos fez. E é esse sentimento que devemos espalhar sempre.Li, não lembro onde, algo que dizia mais ou menos assim: “você só morre de verdade quando a última pessoa que tinha uma lembrança sua, morre também.” Se as lembranças que deixarmos nas vidas das pessoas forem marcadas de atos de solidariedade e de amor, com certeza continuaremos vivos nos corações para sempre.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Lixeira que é bom...






Comecei a semana cumprindo a promessa de fazer exercício físico. Mesmo com o tempo chuvoso, levantei na segunda-feira e parti para a minha caminhada. Mas isso não foi o mais extraordinário que aconteceu!




Saí comendo uma maçã, já que lembrei que não é aconselhável fazer exercício em jejum. E aí sim, o extraordinário: voltei pra casa com o que restou da maçã porque simplesmente não encontrei uma lixeira durante todo o percurso na Avenida Beira Rio.




Plaquinhas de conscientização como “respeite a natureza”, “jogue o lixo na lixeira..e não no Rio Cachoeira”, tinham de sobra. Mas lixeira que é bom...Como imaginar uma cidade como Itabuna sem lixeira nas ruas? Esse é mais um dos problemas que a cidade vem enfrentando e que são coisas simples, que poderiam ser resolvidas facilmente. Eu fico imaginando as coisas complicadas, que o cidadão não pode ver.




Como ensinar a minha filha que lixo se joga no lixo e não nas ruas? Já posso até prever as perguntas dela: “mãe, por que não tem lixeira? Tenho que esperar até em casa pra jogar esse papel no lixo?” Vou cumprir meu papel de cidadã e fazer como fiz com a minha maçã. Chegar em casa e fazer o certo, mas nem todos vão fazer isso e aí surgem os outros problemas como bueiros entupidos que causam uma total desordem na cidade.

Essa é uma realidade presente não só no centro da cidade, mas em vários outros locais. É claro que cumprir com os deveres de cidadão é o que todo indivíduo deveria fazer mas o poder público também deve cumprir os seus, entre eles oferecer meios para que a cidade fique limpa e colocar lixeiras é o mais simples de todos eles.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Balina e eu






Eu a encontrei com quatro meses de vida. E o encontro foi um tanto inusitado. Ganhei Balina às custas de um “porre” do meu pai. Sim, isso mesmo! Com um monte de gente buzinando no ouvido dele:”Vai, Zelito, assina o cheque e dá logo a ela!” Oitenta reais. Esse foi o preço de Balina.



Quem pagou caro mesmo foi minha mãe que num ato de desespero nas minhas tantas choradeiras pra ter um cachorro, disse que aceitava, mas com uma condição: ela escolheria o nome. E assim Balina foi batizada.



O amor foi tão grande que no primeiro dia que ela chegou, na nossa primeira conversa, ela me entendeu e atendeu: “fica boazinha, dorme aqui na almofada e não chora, senão mainha não deixa você ficar.” Ela dormiu. Eu passei a noite acordada, encantada com aquele “bolinho de pelo”.



Eu ficava antenada o dia todo, correndo atrás de Balina pra limpar o que ela fazia de errado na casa, antes da minha mãe perceber. Nessas horas meu pai sempre foi meu cúmplice e limpou incontáveis xixis e cocôs antes de a “dona encrenca” encrencar! Acho que esse amor por animais eu herdei de meu pai. Mais uma especial herança pra eu me orgulhar.



Bali sempre se mostrou uma companheira fiel. Fidelíssima, aliás! Que o digam meus namorados! Encostar era difícil! Quantas criancinhas sofreram com o ciúme de Balina quando brincavam comigo! Até a minha irmã sofreu com o gênio forte de Balina! E olha que Camila nunca deixou barato! Rosnava junto com ela e enfrentava toda a vez que Bali não deixava ela entrar no quarto enquanto eu dormia.



Ai,ai. Hoje vejo Bali com quinze anos de idade. Vivendo no lucro. E ainda tendo que suportar a dor de um novo amor ocupando o meu coração: minha filha. Mas o mais interessante é que ela deixa Bia conviver com ela tranquilamente. Realmente só um amor assim pode perdoar o meu afastamento necessário. Meu colo ficou bem difícil e os carinhos um tanto quanto esquecidos.



Mas o amor existe. Agora estou num grande dilema com Bali. Escrevo para desabafar e tentar encontrar a melhor solução pra nós duas. Estou realizando um sonho, mas ela está impedida de participar do sonho comigo. Coisas da vida. Agora olho pra ela e tento fazer com que entenda. “Bali, fica boazinha e me perdoa. Fica bem.”

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Serviço de som: a cultura que informa



A comunicação sempre foi algo indispensável para a sobrevivência do ser humano. A interação com o meio é fator determinante para o desenvolvimento do indivíduo em sociedade, como afirma o teórico Vigotski, em sua teoria a respeito da formação do ser humano. “O homem é um ser social e as condições sócio-culturais o transformam profundamente desenvolvendo uma série de novas formas e procedimentos no seu comportamento.”


Essa interação só é possível graças à comunicação, seja ela visual, auditiva, ou das duas maneiras. Nos dias atuais, a modernidade tem feito algumas pequenas mudanças no processo de comunicação, porém nada que interfira na aprendizagem.


O homem é uma consequência das influências ou forças existentes no meio ambiente. A hipótese de que o homem não é livre é absolutamente necessária para se poder aplicar um método científico no campo das ciências do comportamento.


Mas algo interessante ainda chama a atenção, e por isso a intenção de quem agora escreve esse artigo ainda fazer desse algo um objeto de estudo, num mestrado, por exemplo. Trata-se de uma cultura que começou há muitos anos e que permanece viva até os dias de hoje, sendo peça fundamental na arte de informar e comunicar: o serviço de som.


A cultura de informar através do serviço de som extrapola os limites de um simples meio de comunicação, que se preocupa com propagandas, divulgação de serviços. Desenvolve, acima de tudo, um papel social, contribuindo diariamente no andamento da cidade, com informações que vão desde os nascimentos, mortes, enterros, até reuniões em igrejas marcadas de última hora.


Enfim, tudo está intrinsecamente ligado ao que é noticiado no serviço de som que, geralmente, está presente no centro da cidade. Mesmo com a informática, televisão, rádio e outros avanços da tecnologia, essa cultura ainda permanece e é de grande importância para os indivíduos.


Talvez essa realidade ainda exista em decorrência dos fatores sociais e econômicos. Como se trata de cidades com pequeno número de habitantes e locais onde a economia não evoluiu de forma expressiva, o modo de viver continua sendo o de anos atrás, onde geralmente o que movimenta é a pecuária e a agricultura, com pequeno espaço para o comércio.


Dessa forma, a tecnologia não encontrou meio para se fazer presente na vida de todos os indivíduos e a única maneira de informar continua sendo os veículos mais simples como carro de som, rádio e o serviço de som. É importante não deixar morrer essa cultura que já faz parte de uma linda história, das vidas de milhares de “Marias” e “Joãos” que aprenderam na prática a importância das representações culturais, da identidade e da necessidade de se manter viva a memória de um povo.