segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Andanças...


Mudança sempre foi sinônimo de preocupação para muitas pessoas. Mudança de emprego, de casa e de tantas outras coisas. Mas para mim mudança sempre foi motivo de grande euforia, ansiedade e alegria. Mudança de cidade. O trabalho do meu pai exigia esse sacrifício: andanças, muitas andanças.


E foi desse jeito que encontrei tantos amigos, que passei por tantas escolas, que tive tantos quartos, tantos quintais e tantas histórias para contar. Dentre as que me lembro foram onze cidades até quando completei dezessete anos de idade. E sinto saudade quando me lembro de tanta coisa boa que só uma criança poderia aproveitar e amar, como eu.


A primeira coisa era saber o nome da cidade, e depois “quantos quilômetros, pai?” A arrumação era a segunda etapa. Folia o tempo todo: guardar bonecas, brinquedos, ajeitar as roupas, doar o que não usava mais. Olhar para trás e deixar o canto com o qual já estava acostumada, doía. Mas olhar pra frente e sonhar com um mundo novo era muito mais empolgante e encantador. E isso bastava para curar a tristeza da partida.


Pé na estrada. Lá estávamos nós, família unida, partindo para a nova empreitada. Em uma das andanças, até o “fox paulistinha”, nosso mascote, teve que agüentar mais de seis horas de viagem até chegar ao destino. O que nos reservaria esse destino não era preocupação. A intenção era chegar ao lugar.


Nova cidade, nova rua, nova casa, novos amigos, nova escola, novo mundo. E nunca vou esquecer o quanto essa experiência foi enriquecedora pra mim. O fato de ter conhecido vários lugares e várias pessoas me fez compreender melhor alguns detalhes e entender que não podemos nos apegar tanto a tantas coisas, que parecem insubstituíveis e, no entanto, não são.


O melhor da vida é conhecê-la de verdade. E as andanças nos revelam muito sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os vários mundos que rodeiam o nosso singelo mundinho. Hoje o meu mundinho com certeza representa muito de tudo que vivi com tantas experiências. E que bom é bater na porta da saudade e ver a tia Maria do Carmo e sua “cestinha elevador” no térreo esperando o bolinho de milho de minha mãe no primeiro andar, ou os almoços na casa de tia Celeste e tio Abel, ou ainda da grande aventura de Itaberaba à Itajuípe, com tia Ana e tio Gilberto. Pessoas, grandes pessoas.


Um dos pontos que mais tenho saudade são as escolas. Nossa! Quantas foram mesmo? Seria pedir muito lembrar assim, mas elas estão no coração e as grandes professoras também. Tia Vera. Onde será que está hoje? O que será que faz? Como será que anda? No meu coração está do mesmo jeitinho: baixinha, cabelos pretos e lisos e um sorriso doce e singelo de encantar qualquer aluno. Obrigada por tudo, tia Vera.


Lembranças das andanças, saudades dos momentos...



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os amores


Existe saudade melhor do que a dos grandes amores? Com certeza não. Saber viver e procurar amar de verdade é o que todos buscamos na vida. Para não ser diferente, eu também fui uma daquelas pessoas que amou muito, que sofreu e chorou, sorriu e vibrou diversas vezes em virtude de um grande amor.


Hoje as fotografias e cartas ainda guardadas na mente, além de todos os momentos que também ficaram guardados, são os fios condutores de uma viagem às lembranças das vivências que me fizeram ser a pessoa que sou hoje. O primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira briga, a ilusão.


Não tive muitos amores, mas vivi profundamente os poucos que tive. E quanta coisa não já escrevi por amor, não já falei e fiz por esse sentimento que, quando adolescente, tem ainda mais poder sobre as pessoas...


É uma nostalgia boa, uma sensação de que tenho o que contar. E isso é o mais importante: ter o que contar. Por exemplo, o namoro infantil, sereno, que me fez amadurecer; ou o amor sério e verdadeiro que me ajudou em momentos difíceis; a troca de cartas; as surpresas que não se cansavam de chegar...


Depois dos amores, ficam as saudades. E com as saudades ficam as lembranças. E para ilustrar essa última, deixo aqui um poema que marcou bastante um dos meus amores. Não se pode esquecer alguém que nos ensinou tanto na vida.


"É quando a garganta seca,


É quando as mãos agitam,


É quando o corpo respira,


Que os meus pensamentos se perdem


Querendo dizer...



É quando o sangue ferve,


É quando as veias pulsam,


É quando a alma treme,


Que os meus pensamentos se perdem


Querendo entender...



É quando a boca se cala,


É quando os olhos falam,


É quando o coração vê,


Que os meus pensamentos se perdem


Querendo viver...



É quando o sol se esconde,


É quando a noite chega,


É quando as estrelas surgem,


Que os meus pensamentos,


Enfim,


Se encontram suspirando por você."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cantinho da vovó...


Era uma casinha simples, na Rua Manoel Batista, 215, em uma cidade simples também, chamada Buerarema. A casinha que já foi rosa claro, azul, verde e outras cores, mas que nunca perdeu a sua identidade. Algumas escadinhas, uma grade não muito alta de onde dava pra ver toda a rua e as pessoas que passavam, dois canteiros com dois lindos pés de roseiras.


Entrando, uma varandinha singela, local de conversas rápidas com visitas ou de longas reflexões solitárias. A sala de visitas com fotos da família na parede, flores artificiais em vasos de porcelana e um quadro com a imagem de Jesus. O primeiro quarto, do casal, com um grande mosquiteiro cheio de babados, colcha bem arrumada e um segundo quarto, de visitas, com duas camas, uma de casal e outra de solteiro. O telhado sem forro tinha algo peculiar: uma telha transparente, de onde podia se ver a claridade logo cedo ou a lua, ao anoitecer.


Uma outra salinha era o ambiente familiar: sofá, televisão, cadeira do papai. Ali a noite se estendia. Apenas a televisão ligada. Todas as outras luzes da casa apagadas. Tinha que se economizar. Um dos cantos mais apreciados: a cozinha, espaçosa para acomodar os filhos, netos e amigos. O local para apreciar o bife de caldo, o feijãozinho do dia, o arroz nada soltinho.


Por fim, o quintal! Tartarugas, papagaios e passarinhos já foram os moradores do local onde, além de outras tantas coisas, podia-se tomar banho de mangueira ou de caneca com água tirada direto da cisterna. Ainda não havia água encanada, e uma das maiores festas era o momento do banho no quintal!


Ali eu vivi grandes e inesquecíveis momentos da minha vida. O colo gostoso da minha avó, as conversas com meu avô, as brincadeiras de casinha com todas as panelas da cozinha, as risadas com os primos e primas.


A mercearia de “gordo” onde se vendia a melhor maria-mole do mundo, o picolé de Dulce, o leite que passava logo cedo com o garoto de bicicleta, o maior pão de leite que já havia comido na vida. Infância bem vivida, lembranças bem guardadas.


Tudo isso só encontrava na casa da vovó Noélia. Hoje só encontro em minhas recordações, quando fecho os olhos e lembro-me daquela senhora, exemplo de mulher, mãe, guerreira, que apesar de todas as imperfeições, foi um grande exemplo pra mim. A primeira neta, o primeiro afago, a primeira em tudo que podia ser. E a última a se esquecer...